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Cuidados de saúde primários – Relatório ERS 2021-2023

By 2024-05-06 No Comments

Artigo de opinião

“Não podemos dar-nos ao luxo de não termos um médico que cuida de nós como um todo”

A SPEM representa a Plataforma Saúde em Diálogo, como Associação de Doentes no Conselho Consultivo da Entidade Reguladora da Saúde (ERS). A ERS, em nome de todos os portugueses, faz a monitorização dos serviços prestados, entre outros, dos Cuidados de Saúde Primários, a partir da informação disponibilizada pelo Portal da Transferência. Apresentou em abril passado um relatório sobre o período compreendido entre 2021 e 2023.

 

Enquanto pessoas com uma doença crónica complexa, como é a Esclerose Múltipla (EM), há vários aspetos sobre os quais devemos ter em atenção. Assim:

Em termos de percentagem de utentes inscritos no SNS (Serviço Nacional de Saúde) com médico de família: com exceção da zona norte, houve um decréscimo generalizado de utentes abrangidos por médico de medicina geral e familiar (ou médico de família) – 1 em cada 5 na região do Algarve e 1 em cada 4 na região de Lisboa e Vale do Tejo não têm médico de família. Não podemos dar-nos ao luxo de não termos um médico que cuida de nós como um todo, ou seja, que junta “as peças” dos vários médicos especialistas e, em conjunto com os outros profissionais, nos ajuda a enfrentar as dificuldades e alerta os demais colegas de equipa para o nosso equilíbrio;

No que toca a consultas médicas presenciais, houve um crescimento de cerca de 22%enquanto as consultas de enfermagem presenciais tiveram um decréscimo de mais de 33%. Uma vez mais, o Algarve está na cauda dos resultados, seguido do Alentejo e muito distantes da região Norte. Contudo, tudo ainda longe dos volumes que tínhamos em 2019;

Nas consultas médicas não presenciais, houve um decréscimo de quase 27%. Apenas as consultas de enfermagem não presenciais aumentaram cerca de 10% face a 2021;

Em termos de consultas médicas ao domicílio, houve também um crescimento de 10%em relação a 2021. Contudo e uma vez mais, o Alentejo e o Algarve apresentam um decréscimo importante;

Num país em reconhecido envelhecimento, as consultas médicas não programadas a pessoas com mais de 65 anos apresentaram uma diminuição de mais de 30%;

Nos doentes crónicos, houve um aumento de mais de 30% de utentes inscritos com diabetes, não sendo clara a evolução das restantes patologias;

No caso da EM, Portugal tem cerca de 8.000 pacientes diagnosticados há 15 anos. Não há no relatório referência explícita à EM, mas aparentemente o número total evoluiu pouco, o que sabemos que não é verdade.

Há evidência de que a promoção de bons hábitos de saúde e prevenção da doença, proporcionam um retorno positivo e poupança no investimento Estado em Saúde.

Os preços dos meios complementares de diagnóstico têm vindo a diminuir. Em particular as ressonâncias magnéticas custam hoje ao Estado menos de metade do que custavam há 10 anos.

Partilha de conhecimento e boas-práticas

Foi publicado, em dezembro de 2023, o Decreto-Lei sobre os Centros de Responsabilidade Integrada (CRI) com o objetivo de aumentar o acesso, a qualidade e a eficiência da resposta do SNS, através da dinamização da reorganização interna dos hospitais.

Em breve teremos alguns números sobre o CRI de Esclerose Múltipla (CRI-EM) da ULS de São José, que acreditamos serem muito bons. Através de avaliação não científica, de experiência e satisfação dos utentes servidos por este CRI e associados da SPEM, podemos concluir que tem sido muito positivo.

CRI? Sim, mas nacional!

O conceito que defendo para um CRI é um modelo centralizado em termos de coordenação, partilha de conhecimento e melhores práticas. Os profissionais não necessitam de estar todos fisicamente próximos. A tecnologia permite, hoje, que estes profissionais possam estar fisicamente distantes, mas partilhando o acesso ao melhor conhecimento e contacto.

Não defendo que não possa haver mais CRIs. Defendo que haja partilha de conhecimento e boas-práticas que se reflitam em melhores cuidados a todos nós.

Defendo que em Portugal exista um CRI de EM nacional. Possa estar centrado numa ULS e una todos os profissionais que queiram participar e estar ao abrigo destas regras e benefícios. Se o fizermos bem, podemos ter um Centro de Excelência Nacional de Esclerose Múltipla que atraia mais profissionais de excelência para o nosso país e isso signifique melhores cuidados para todos nós e um modelo atrativo para turismo de saúde, com benefícios de equilíbrio económico para o SNS.

 

Por Paulo Gonçalves (Vice-presidente SPEM)

E se este conceito viesse a ser aplicado para outras áreas de especialidade? Qual seria o impacto num próximo relatório da ERS?

 

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